segunda-feira, 2 de setembro de 2013

need you. apesar da gorda

Se as coisas tivessem uma explicação inegável era muito mais facíl. Diríamos uns aos outros em conversas banais num Domingo feliz:  Tem que haver um Deus que nos faça isto, que nos tenha posto aqui hoje, que nos tenha posto antes a  ouvir Pink Floyd -, que nos tenha oferecido, mascarado de outra pessoa, está claro, porque era um lugar tão banal como a porta do Centro Comercial Fonte Nova, em Benfica - o livro A Casa dos Espíritos, da Isabel Allende. Ou o Kundera, o perfumoso do Kundera que só é verosímel para miúdas que vão ser esquisitas o resto da vida por sublinharem passagens dos livros do senhor em que entram outras miúdas nuas, de chapéus de côco, a ver coisas, como os próprios pipis reflectidos em espelhos barrocos, em apartamentos, em Praga.

Xixi-Cócó.  Porque aqui sentada, 43 anos nunca tive um ente querido que me tivesse dito - caridosa ou professoralmente, tou por tudo, que seria melhor ir ouvir Delfins, que falavam na Bahia de Cascais e lá era onde ficava aquele bar onde os bons bebiam Bloody Marys por forma a prosseguir, um tipo de jornalismo literário professado por eles e um grupo de pessoas felizes que fingiam que não comiam pipocas e portanto não tinham que fazer nada à Guida Gorda, para entrar no Frágil.
Exemplo pratico. Nos anos oitenta a Guida Gorda era o Demo para os under thirtysomething que ela julgava por terem predilecção por pipocas.  Ela sabia.
Nessa altura tentei entrar umas 16 vezes no Frágil, das quais três foram bem sucedidas porque as pessoa que estavam comigo não comiam pipocas (não comem até hoje)
Era a barreira do Demo e Deus Nosso Senhor toda a década de oitenta,  Privando uma geração de pessoas normais de ENTRAR  no Frágil, de ver os artistas lá dentro, de ver os picolhos, as fufas, os anormais, os anões, os músicos e até alguns poetas mesmo poetas.
 Pior, privando-me do meu amor, das músicas, das bebidas, das casas de banho e do que estava lá dentro tão giro impedindo o acaso de despachar na minha vida.

Foi Ela, mais Deus maldoso que  proibia acasos entre comedores e não comedores de pipocas. Só porque não queria misturar os dois senhores.
E  meu amor tão gira, tão cool, lá dentro, sem mim, sem pipocas, sem o Rio, sem chocolate, sem me poder dizer que Ipanema era o nosso lugar, prepara-te que a tua vida vai ser assim e Mómó, esquece lá  o Kundera e a senhora  que estão no saco enganoso das coisas de Deus quando trabalha sem o Diabo.
E os dois interessar-nos-ão menos que o Miguel Ângeloe os Delfins,  na nossa vida, tenhas tu a idade que tiveres e eu a idade que tiver e  nos apareça ele a ajudar os golfinhos da Margarida Pinto Correia,  ou a comer um gelado no Santini porque nos passou à frente com o cartão habitué, ou a olhar para as maminhas da Rebelo Pinto naquela foto da Caras.
É uma questão de filosofia da proximidade. O Miguel Ângelo está perto, há-de ajudar-nos ou ir ajudar nas nossas zangas com o Nasce Selvagem,  a ficarmos pertinho uma da outra, apesar da Gorda e do que o Kundera e suas malucas checas cheias de frio e ideias suicidas nos fizeram pensar.

Mómó, mulher alguma se vê  assim ao espelho, toda  nua de chapéu de côco, a não a Juliette Binoche ou a Lena Olin a fazerem-se ao Daniel Day Lewi porque a Michelle Pfifer já as encanitava em sonhos invejosos e doentios à procura da perfeição que lhes permitisse entrar no Frágil.

Esquece lá isso tudo e  as tuas mágoas e lembra-te que Deus aparece em dias quentes, numa igreja branca e azulzinha em Santo Amaro da Purificação, na Bahia, onde nasceram o  Caetano Veloso e a Maria Bethânia e nunca foi ao Frágil só a lugares como a  porta do Frágil, para te fazer olhar para as tuas impotências. Tu, mómózona parvalhona, comes pipocas e não escreveste Baby, ou Sampa, ou Eclipse Oculto, nem cantavas, cantas ou cantarás as maleitas daquela senhora como a Bethania lhe canta e nos canta as nossas coisas e nos fode a cabeça e os cotovelos,porque ela sim é Deus e o Diabo. Quantas vezes  foste para casa, mandada por ela, morder pescoços lindos para te esqueceres que a gorda te impedia de ser feliz e eras ainda mais feliz?

Olha, pensa bem que ainda outro dia não foi nenhum Deus supremo barrador de felicidade que te pôs em cima do Sedgway e te fez feliz. Fui eu e o Diabo e os teus filhos juntos que fizemos esforço e morremos de vergonha alheia até te equilibrares em cima do Segway e teres a certeza que os dois caminham juntos e isso é bom. Se os deixares entrar.



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