sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Um abraço no coração, salvo seja

Quando tinha 14 anos tinha uma amiga querida, na Escola Secundária de Benfica, que quando me escrevia cartinhas - daquelas BFF - acabava as missivas com: Beijos com sabor a chocolate; Beijinhos Croissants ( que eram aqueles que tinham acabado de chegar a Lisboa, croisants com recheio).  Uma coisa tão pura e uns beijinhos e abraços tão queridos que era como se eu não tivesse mais ninguém, como se ela, nos 14 anos dela, sentisse que as pessoas daquela idade só se têm umas às outras. E só. Porque mais ninguém interessa. Pais principalmente. Ela não era uma principiante no amor e em espalhar a cena boa da canastrice amorosa . O que só percebi mais tarde quando soube que tinha acabado pediatra porque tive a certeza de a ter visto a tomar uma água de coco na praia.
Os beijinhos com sabor a chocolate eram recebidos por mim calada. E acho que nunca mandei beijinhos com sabor a ela nem a ninguém apesar de às vezes, no fim das cartas me ter apetecido.
Não sei se hoje ela ainda acaba assim as cartas dela. Espero que não, pelo menos para as outras pessoas. Isto é porque cresceu, Mas esperaria que sim, talvez com sabor a caju, se mais alguma vez Ela me escrevesse. É que foram estes beijinhos e pessoas que escreviam a várias cores, ou daquela maneira que são as palavras todas ligadas, que fizeram de mim o que sou hoje: Beijoqueira.  Que é uma coisa bela para os amigos em quem penso quando estou a ver o pôr do sol na pedra do Arpoador, ou aqueles a quem nunca dei um beijo e estão com saudades minhas.

quinta-feira, 29 de novembro de 2012

dormir

Hoje quero ver a Gabriela, ler a crónica do Veríssimo e dormir. Não há nada no mundo que mais goste de fazer: Adoro dormir, vir para a minha caminha e ter um colchão bom. Ter chá gelado na mesinha de cabeceira, poder deitar a cabeça na almofada e sonhar, se bem que o meu analista não tenha respondido aos meus apelos para voltar a fazer análise. Sinto a falta dele, acho que o perdi, que se fartou de mim porque me fui embora e não lhe consegui pagar a última consulta. Estou viciada nos meus filhos e no Instagram. Sinto-me mais feliz do que há muitos anos não sentia e já não procuro boicotar essa mesma felicidade. Se calhar já não preciso de analista. O que não me impede de lhe sentir demasiado a falta. Escrever sobre nada, ser linda, retirar o silicone. A gente chega lá.

quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Dona Isabel não tem buceta

Dona Isabel Não teve os Infantes pela buceta e eu se continuar a fumar cigarros de mentol de rebentar bolinha também não tive. Este é o parágrafo do dia que desenvolverei na medida do tempo que tenho, que é a primeira vez, desde que cheguei, que vou sair à noite no Rio. Enfim ponto parágrafo.
Repito que Dona Isabel não teve os infantes pela buceta só porque Dona Isabel é a mulher sem buceta. Dona Isabel não tem ali uma coisa como nós. Dona Isabel terá no máximo uma parte lizinha como as bonecas ou os anjinhos barrocos que há em Positano.
Dona Isabel é tão molinha e côr de pérola e bege que dá vontade de fazer perguntas como, se é feliz, se sente as coisas que seu cãozinho sente, o que pensa das botas de montar, em geral. Dona Isabel deve saber fazer arroz. Mas onde está a buceta que não lha vejo nos olhinhos? De onde saíram os infantes? Assim, assim, ao olhar para ela nos casamentos estrangeiros, nunca consigo ver. Aquela senhora não tem. E da minha mãe consigo ver. E da minha avó consigo ver. E da D. Erondina e  da Manuela Eanes consigo ver -  com esforço o da Eanes, sim -  mas vejo.  Que coisa até o Itamar Franco tinha buceta! Fixação.

terça-feira, 27 de novembro de 2012

Surucucu do olho preto

O que eu gostava de ter cursado farmácia e não. O óbvio é que adoro comprimidos e quanto mais velha mais adoro. Na verdade sempre gostei de bulas e pessoas que liam bulas, era logo uma coisa de doer para mim. Tiro e queda. Há muitos tipos de pessoas: As que adoram bulas e nunca quiseram ser médicos e as que odeiam bulas e sempre quiseram ser médicos. Tenho uma amiga recente, mas que adoro especialmente, que não faz parte do grupo bulo-adorador, mas sempre quis ser médica e diz coisas tais e de rir como: Aos sete anos, enquanto tu já lias bulas, eu andava a enfiar lápis nos pipis das minhas amigas. Isto é imbativel. Adoro-a. Adoro-a mais do que ela sabe. E é maravilhoso adorar as pessoas mais do que elas sabem e no ponto exato em que elas querem.
Quanto aos remédios. Já tenho uma caixinha, que é mais um caixotinho de prástico, comprado por quem me ama. Tomo todos eles religiosamente e abuso dos que gosto mais. Bebo o chá que ela me faz todas as noites para acompanhar o abuso. Gosto dela, muito, muito. Não tem como não gostar de quem adormece todas as noites só depois de se voltar para mim e falar: "Fica feliz meu surucucu do olho preto."

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Despudorada é o cacete

Eu não sou despudorada. Não imagino a Natália Correia a fazer coisas despudoradas, a não ser saltar para cima de uma mesa e dizer poesias. Dizer poesias não é ser despudorada, as palavras não podem  ser despudoradas simplesmente porque são palavras. Palavras como vagina, orgasmo,  mamilos, menstruação, vulva, pelos púbicos, axilas e assim juntas a faz-me isto, ou lambe-me aquilo, ou aqui, também não têm a ver com despudor. Ou têm, se quiserem e num mau sentido. Eu não gosto dos escritos destas pessoas aqui ao meu lado por serem despudorados, ou porque mostram as entranhas dos seus fantasmas que são as pessoas das vidasdeles. Eu gosto porque são envergonhados naquilo que mostram. Porque nos fazem pensar que estamos a ver tudo e não estamos a ver nada. Porque têm bom gosto e nunca na vida escreveram uma coisa tão merdosa como a gorda da EL James que tem problemas mentais e chama ao pipi DEUSA INTERIOR. Esta senhora devia era ir ter um encontro sado maso com o maluco do Portnoy do Philip Roth  e ser obrigada a masturbar-se com aquela isca, blrrrrrrgh que coisa mais maravilhosa. Não sou despudorada, não gosto de despudores, sou até muito púdica e isso da escrita despudorada atrapalha a minha vida toda. E agora quero uma linha de coca. Saí ao lado destes génios todos. Mereço ficar ainda mais, mais.

domingo, 25 de novembro de 2012

dores de amor que não nos deixam pensar por três dias

As coisas para dizer não vêm assim. Custam. Não saem e não há nada de lindo, de azul ou de música de Caetano ou Gal se não se está bem com o amor. Como a Gabriela que deixou de ser feliz com seu Nacib e ainda não sabe que tem tudo a ver com o sapato que ele obriga ela a usar. Há coisas tão doloridas no amor como os sapatos  de número errado.
No entanto ainda há as Havainas por isso amanhã volto.

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Tricot para o infinito

A uma altura da vida a minha tia fazia tricot para o infinito. Era giro, era excentrico e nós achávamos que era para nada. Ela estava bem, era uma pessoa feliz e cheia de amigos, mas nunca deixou de tricotar para o infinito. Fazia cachecóis para o nada mesmo, só para treinar. porque quando acabava a lã ela desfazia tudo para voltar a fazer com a lã usada.
Como os namorados que nunca deixaram de ser namorados mas se zangam e deixam por um bocadinho mas depois fazem as pazes. E o caminha fica junto. E a fazer as pazes recomeçam como se a linha fosse nova e caminham para um ponto de interseçaõ que nunca vão encontrar, porque não são iguais e nunca vão chegar juntos, ou ao mesmo tempo ao amor total que têm um pelo outro.
Imaginem as dificuldades no amor, as diferenças de criação, de idade de côr. Impossível isso  tudo fazer com que se chegue junto. O que é muito diferente de dizer que o amor é impossível quando há diferenças que os amantes não vêm e vêm e sem falar nada tentam ultrapassar como se não fosse nada. O amor chega a uma pessoa numa altura e a outra noutra altura. Nunca chega junto aos dois. Aquele a quem chega primeiro convence o outro que tudo aquilo é muito - essa é melhor altura no amor - e aí ele é bestial. Porque o outro já lá está e faz de conta que não está. Me engana que eu gosto, diria a Monique Evans nos anos 80.
Esta prosa porque preciso de escrever e dizer que continuo a achar que nas vidas das pessoas mesmo as muito atentas e conroladoras há acasos. E se tudo correr bem fazemos grandes novelas. Tudo o que desejo aos amigos.

terça-feira, 20 de novembro de 2012

Feriado de Zumbi - Meninas brancas em casa.

Naquele dia a autora estava com preguiça. Não é que não tivesse preguiça nos outros dias todos, mas este ataque foi demais. O encontro tinha-se dado na cozinha da casa do Alentejo. Ela não esperava ver aquele livro ali, justo na bancada abaixo do crucifixo na parede e muito menos esperava que a cozinha fosse assim, nunca entrara numa cozinha onde  houvesse uma rede. E um livro. Olhou em volta, viu a miúda fazendo as almondegas e quis trazê-la para ler o livro na rede. Havia algo em mulheres com as mãos sujas de farinha e em má literatura que exercia um poder chapanto sobre ela.
Não me lembro nunca de a ter visto de pé, estava sempre sentada, perna traçada, elegante e triste. Lembro-me de olhar Madame Butterfly e sentir uma aura de preguiça que me contagiava também a mim. Não sabia que o gosto dela eram as moças cozinheiras das Herdades do Alentejo. Mas então ela sentou na rede, fitou a cozinheira e abriu o livro e eu vi o olhar lascivo.
Nesse dia acordei-a, olhou-me pensativamente, e falou: Então isto não passa de um sonho? Encostei-me a ela, acalmou, voltou-se para o outro lado e caiu de preguiça mórbida, achei eu convencido da doença. Só depois, quando lhe fui ver o pulso, vi os três piriris com que lidava com as dificuldades da vida moderna na mão.


Ana Binder, Mónica Tiple e Mónica Marques agradecem o querido Pélé.

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Os meus, os teus e graças a deus não, os nossos.

Terror. São todos diferentes. E se não são fazem por sê-lo nós é que fazemos, porque estamos em coma. Pior que coma, espasmos induzidos. Estamos em episódios espasmódicos.  Em nervos. Só me lembro de uma ocasião assim em que me controlei melhor, à frente do Fernando Seara, numa oral na Lusíada.  Mas o Seara tinha um assistente giro.
Ela gosta do nosso ente querido? Sabe usar talheres? Os filhos todos do nosso ente querido parecem saber e cortam o bife em rectangulos perfeitos desde os quatro anos. Agradecem os chocolates, dizem Boa noite. Os nossos usaram quatro chupetas até aos seis anos e não gostam de piercings. Não jogam bascketball. Estão a cagar-se para os riscos brancos deixados pelos aviões no céu azul.
As roupas, estão giros. Mais giros que o do ente querido? As respostas e as perguntas estão a ser giras? Estamos a conseguir ser uma família moderna, como na TV? Eu sou a Vergara, tu és o Mitchell, ok? Câmera da morte. Ultima refeição e olha os meus querem imensas sobremesas caras, que esta cidade está pela hora da morte. O teu não quer. Os olhos do teu senhor parecem-me os olhos dela. Assim de raspão. Não olho, que mau, tenho que ultrapassar isso. Eles não riram da minha piadola insana, mas que faço eu a contar piadas? Não gostam uns dos outros nem  gostam de nós. É como um fim do mundo, ou como a fotografia da menina nua  a correr de uma bomba no Vietname que realmente, ou eu estou parva, ou não é coisa para aqui chamada. Porque não é uma coisa da vida normal.

domingo, 18 de novembro de 2012

A Pedra do Arpoador

Ninguém passa por um pôr do Sol na Pedra do Arpoador incólume. Incólume é uma palavra horrivel que normalmente não uso no meu vocabulário e o que eu quero dizer é que quem alguma vez já acabou um fim de semana a assistir ao espectáculo não vai voltar nunca mais a ser a mesma pessoa. Acho que hoje havia até policiais militares - vindos da parada gay em Copacabana - emocionados com a cena. Ninguém precisa pagar bilhete e esta deve ser uma das últimas coisas que não se pagam no Rio, além de ir à praia, ou caminhar no calçadão em direcção ao Leblon, com os Dois Irmãos na nossa frente. É uma coisa que nos faz feliz, pequenos seres felizes demais, seres sem músculos, sem pose, sem medo do fim do mundo e acompanhados de todos os amigos que não estão a ver aqueles minutos de lindura que nada têm a ver com nada. Têm a ver com o que temos dentro de nós para dar aos outros. Têm a ver com lembrarmos de quando éramos sentimentais e aguentávamos o sentimentalismo dos outros. Tem a ver com o mundo melhor que os nossos putos não vão ter, porque há pessoas que nunca viram o pôr do Sol no Arpoador e não querem. Porque é perigoso demais. Ou como apertar pintainhos.

sábado, 17 de novembro de 2012

Isto aqui não é sempre um Oba Oba

Os rins do Oscar Niemyer estão a falhar. É muito possível que ele não dure muitos mais dias. Estou ansiosa porque ele morra depressa. Como ansiei que a minha Tia Rosário morresse rápido, nos últimos dias dela de luta contra aquela merda de doença. É muito chato esperar uma pessoas morrer quando já sabemos que vai morrer. Quando já nos levaram a pessoa para aquele quartinho isolado, para poder morrer longe dos que também vão morrer. Sentam-nos ao lado da nossa pessoas e ficamos a olhar para aquilo que já não é e ainda nos é uma pessoa querida. Eu só queria que ela deixasse de respirar, ali estendida. Porque não conseguia sequer pensar em nada. Tentei usar o tempo para me lembrar de momentos bons, de risos, da última vez que ela tinha estado comigo no Rio, mas não me lembrava de nada porque lhe queria ouvir a respiração e ter a certeza do último suspiro dela. Umas vezes parava e eu pensava, foi agora, mas depois recomeçava tudo de novo e ainda não tinha morrido, porque é difícil morrer. Não morre tudo ao mesmo tempo dentro de nós. As coisas - os orgãos - vão morrendo uns de cada vez e até que se apague tudo, tudo estamos ali a despedirmo-nos da pessoa a correr. Como naqueles dias em que temos um comboio para apanhar.

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Povo, Cais do Sodré

Eu gosto muito do José Saramago. Gostei muito de ler alguns livros dele. Gostei do "O ano da morte de  Ricardo Reis", do "Ensaio sobre a Cegueira" e do "Evangelho segundo Jesus Cristo".
Como muitas pessoas tentei ler o "Memorial do Convento" e não tive paciência. Mas acho que gostar muito de três livros de um escritor - é que não foi assim-assim, foi gostar muito - dá para dizer que se gosta mesmo e para perdoá-lo por não ter gostado dos outros todos.
Quando tinha dezesseis, dezessete anos a altura em que li e gostei destes três, também li e gostei muito de dois livros do António Lobo Antunes: "A memória de Elefante" e a "Explicação aos Pássaros". Eu queria muito mais, nessa altura, gostar do Lobo Antunes. Gostar do António Lobo Antunes sempre foi muito mais cool entre os da minha geração do que gostar do Saramago. Talvez porque os miúdos tenham uma atracção especial por pessoas niilistas, como a mim me parecia ser o escritor e não por chatos, como a mim me parecia ser o outro escritor, o afilhado da minha Tia Adelina, o comunista - não consigo entender comunistas, tentei muito por volta dos treze anos porque o meu melhor amigo e a minha melhor amiga, pessoas mais lindas do mundo, eram comunistas e eu amava-os com uma violência desmedida a ponto de ir à Ajuda e ficar emocionada.
Como é desconcertante e maravilhoso estarmos quatro amigos a fazer o Jogo das Músicas da Vida, o ano passado e o meu puto comunista, aos quarenta, continuar tão fiel ao Fernão Mendes Pinto como àquela sua piscina infinity na Zambujeira do Mar, ou ao José Mário Branco que ele queria tanto voltar a ver no Coliseu connosco. Tauma absoluto dos 2 burgueses e da aristocrata presentes no apartamento 40 m2 do quadrilátero de Ouro em Ipanema.
Ouvir a voz contestária e inteligente do José Mario Branco nos dias de hoje é brutal, dói não é net, nem youtube. Ter um amigo que nos pára e nos faz desafiar o tempo, o medo, o pudor, a vergonha da simplicidade e do que é erudito e bom e esquisito e tão nostálgico tudo, é fantástico. Faz-nos ter vontade de o abraçar e querer que a vida dele seja boa. E cheia de campo, e animais e terra e Alentejo com as tais das piscinas lindas que ele só fica feliz quando nos dá. E é.
Nunca mais li nada do Lobo Antunes, mas adoro tudo o que diz por fora dos livros. Ao invés, copio muitas vezes a forma de escrever do Saramago sem ninguém nunca ter criticado. Só porque não sei pontuar.

Ritinha sai de cima da Margherita

Início: Hora de Brasília, 14h.30m

Hoje o dia passou a pensar porque é que as crianças são cruéis umas para as outras e que há adultos que conservam essa coisa e porquê?
É que não é toda a gente. Ou normalmente as pessoas enquanto crescem e não são malucas e refinam  vão largando isso. Ou por necessidade - não se pode sempre ser cruel com os parvos da vida que se cruzam por nós - ou por pudor, ou porque fizeram muita análise. Eu tenho isso tudo, continuo má e não queria.
Muitas vezes me apetece esse poder -  ser cruel com alguém porém venho relevando, para deleite e satisfação dos amigos que acham que cresci -, deixando o ser  vitimado ir embora sem mais, coitadinho e egótico. Já fiz isto ao Woody Allen, à Anabela, uma vez em frente aos sapatos da Imelda Marcos, ao Afonso e ao Adolfo Luxúria Canibal. Lista bonita? Resmas.
Eu gostava de ser perfeita e não tão perversa: gostava de não ter vontade de ainda hoje querer apertar pintainhos até à morte e pôr sapos a fumar; de não adorar pessoas que adoram pornografia;  de rir como o Muttley enquanto atiro graínhas  e caroços de azeitona aos cabelos perversos da Gisele Bundchen no Polisucos do Leblon;  de não achar que ver um anão dá sorte que é uma coisa horrível de se achar. Um dia ainda vou acabar a adorar filmes com nomes compridos como " a influência dos raios gama no comportamento das margaridas", aquele mais óbvio e mais  parecido à fase Concreta do Caetano Veloso.
Estes prolegómenos são devidos a um probleminha pessoal. Se chegaram até aqui só vos posso dizer isto com as mãozinhas na cabeça: A minha filha está apaixonada e é a primeira vez e tem um namorado. Beijos, boa sesta.




Terminada: Hora de Brasília, 16h09m
Enviada: Hora de Brasília, 16h20m, Wi-fi perversa caput




quarta-feira, 14 de novembro de 2012

O povo unido jamais será vencido. Não sei

Parece quase abandono meu estar no Rio e todos os amigos aí hoje. Se eu estivesse aí hoje, havia de arranjar uma maneira de fazer greve, mesmo desempregada e estaria na rua ao lado dos comunas e dos coitados dos miúdos do nosso país sem futuro. Dos miúdos que mostram rabos feios aos polícias e dos que se passeiam semi-bêbados depois, pelas ruas do Bairro Alto, com garrafas de Água do Luso de litro e meio cheias de vinho tinto. Como poderia ter dito Marcelo D2 "a gente vai-se foder, é só uma questão de tempo". E se é só isso as pessoas não têm já nada a perder e pessoas sem nada a perder são maravilhosas e têm aquela força do Darth Vader, ou uma de outro tipo que é a da Uma Thurman no Kill Bill, o melhor filme que vi sobre vingança até hoje. E é impossível passar uma vida sem nos vingarmos de alguém. Eu já me vinguei, muito baixinho, de umas duas, ou três pessoas e soube-me bem. Levou-me lá ao alto do pior e do melhor que há em mim, que são duas coisas muito parecidas e boas.  Mas estes senhores não merecem nada. Estes senhores que lá estão são os senhores que cresceram dentro dos partidos, a brincar às listinhas nas escolas secundárias. São merda. Escória. Carreiristas. Perigosos. Conseguem ser piores que a maluca da Merkel que não tem culpa de ser alemã e portanto aquilo está-lhe nos genes, não se pode fazer nada. A não ser chamar o Dr. House.
Estes meninos todos e o menino António José Seguro também, hão-de esvaziar o país e conseguir fazer do Professor Marcelo Rebelo de Sousa um génio salvador. Afinal, ainda não é hoje que Deus é brasileiro.

terça-feira, 13 de novembro de 2012

Deus não é brasileiro. Só amanhã

Dias de chuva no Rio são tão injustos, tão maus, como dias de Sol em Lisboa oferecidos por Deus Nosso Senhor à Fraulein. Deus não é justo, muito menos Brasileiro quando faz chover no Rio e dá Sol à maníaca-obsessiva que manda na Europa. Porque se Deus fosse Brasileiro era nosso irmão, tinha uma família esquecida em Trás-os-Montes, era um porreta por isso e nunca deixaria a senhora do cabelo ruim passear-se ao lado do Bar Moinho, em Carcavelos, debaixo de um Sol lindo. Como eu sei que deixou. Deus é muito mais injusto e capaz de nos fazer mais mal - só porque tem mais poderes - do que o nosso maior amigo quando nos zangamos. Deus é um parvo porque escreve direito por linhas tortas. Porque é que tem que ser assim? Se Deus é quem diz ser, as linhas seriam perfeitas e logo direitas. Choveriam só pancadas rápidas e sexys  de chuva e abriria o Sol imediatamente depois. E a senhora que leva o pequeno almoço ao Joachim todos os dias e só pensa em dinheiro, faria um entorse no tornozelo, por causa da linda calçada portuguesa, que lhe doesse muito, muito e lhe afectasse também os olhos e não a deixasse ver o nosso mar, aquele que vai da Praia do Moinho até à nossa Zona Económica Exclusiva. Pelo menos.

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Casa

Estou a pensar ir viver para o Vidigal. Para os que não sabem, o Vidigal é aquela favela que se vê quando se olha para o morro dos Dois Irmãos. O Vidigal, neste momento,  é melhor do que o Parque de Campismo de Monsanto que era onde possivelmente eu iria acabar tivesse continuado em Lisboa. Além de tudo o Vidigal está em ascensão e o Parque de Campismo de Monsanto em decadência. Talvez esteja a falar de cor, porque não vou lá desde os idos de 70. Os pais das minhas melhores amigas tinham uma autocaravana, sem avançado. Com avançado eram os bimbos.
Não havia melhor programa que ir passar os fins de semana com elas. Havia piscina - outra esperança minha, é ver o complexo de piscinas dos Olivais revigorado - casas de banho comunitárias onde tomávamos banho todos juntos, papel higiénico debaixo do braço, experiências à noite, liberdade depois dos meus pais me deixarem e voltarem para o aconchego do Lar.
Mas no estado em que as coisas estão, em Portugal, talvez a Câmara pense em recuperar o Parque para as pessoas que não podem mais pagar os empréstimos que lhes disseram que podiam.  Isso vai ser bom. Enquanto tal não acontecer, estou à procura de casa no Vidigal,no Rio de Janeiro, para onde aconselho todos a marchar em força, desculpem o militarismo; onde já moram franceses, holandeses da passa, claro e meninos bem de Cascais a fazerem Erasmus e amigos do Ricardo Pereira, aposto. Onde o futuro é agora, os policiais tomam conta, há escolas de boxe, ioga, chinês e bailes funk do fim do mundo. E eu? Eu sempre gostei de betos e não tenho dúvidas do fim do mundo.

domingo, 11 de novembro de 2012

Domingo no Rio

Dia de Jornal Globo com revista. Dia de ler o Verissimo. Dia de Praia, dia de tentar encontrar um vendedor de queijo coalho na praia, já não há. Dia de andar de bicicleta, de cair de skate, de comer um galeto no Braseiro da Gávea. Dia de caipirinha com adoçante. Dia de Flu no coração. Dia de pôr do sol na Pedra do Arpoador, dia de ser feliz e não escrever. Dia só de sentir porque o melhor não precisa ser dito nem contado. Dia em que morreu o actor Marcos Paulo e eu gostava dele. Paz.

sábado, 10 de novembro de 2012

Eu te Amo

Há uma felicidade estranha na facilidade com que as pessoas aqui dizem que se amam. Como se para amar aqui, fossem precisos muito menos pontos do que aí, ou como se o calor facilitasse o amor evaporando-o por todo o lado. Dentro das caipirinhas, dentro de um chope, quando os malucos pulam da Pedra da Gávea, pelas ruas, na Lagoa.
Se normalmente preciso chegar a onze, em dez, com uma pessoa para conseguir comunicar de alguma maneira sempre complicada e mal feita um amo-te,  o amor aqui é muito mais fácil. Toda a gente se ama logo no café da manhã. O que para mim é tão esquisito como nunca mais ter visto um cigano em Benfica,  porque acordo sempre mal humorada. E até na sintaxe eles estão melhor,  é muito mais fácil dizer eu te amo, do que dizer: Eu amo-te. Eu já disse amo-te. E fica sempre tudo preso e sinto-me sempre um boi. E já disse; Eu te amo e senti-me uma deusa de novela, mas isso só  com os meus filhos, porque o sotaque só eles o entendem e merecem. Mas o amor fácil não é para mim e o amor é a única coisa que quero passar aos meus filhos, mesmo esquisito, como o trago de Lisboa,  que é ele que nos salva, que é ele que nos faz alguma coisa de jeito. Miúdos: O amor não é para se dizer de manhã de dentes lavados. O amor é sujo e limpo, nocturno, choroso e sempre que possível um bocadinho bêbado.

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

O dia em que morreu a Desfolhada

Estive duas horas preocupada sem saber do estado de saúde do meu pai e a pensar  se afinal eu tinha gostado dela ou não. É que o meu pai sempre teve uma coisa enorme pela Simone e eu nunca consegui perceber - até ontem - se gostava ou não, da senhora. Portanto, para mim foi bom  que a Simone tivesse morrido por duas horas aqui no Rio. Pensei no meu pai e revi-o a vê-la cantar a Desfolhada mais ou menos deliciado (tinha que fingir por causa dos ciúmes da minha mãe) numa TV a preto e branco, em nossa casa em Benfica. E também soube que afinal gosto a sério dela. Morta, gostei logo dela. Muito.  Até me arrepiei como quando for o Woody Allen  a morrer. Mulheres daquelas já não se fazem e nunca mais se farão. Uma maravilha egótica, irmã da Odete Santos e da Natália Correia. A Simone de Oliveira irrita porque sabe que é boa. E diz que é boa. Só ela aparecer não precisa abrir a boca, ponham-na ao lado da Maria Cavaco Silva.
A Simone de Oliveira canta muito bem e sabe que canta muito bem e se for preciso diz isso. Uma coisa rara num país de brandos e sonsos.
Se a Simone de Oliveira chegasse ao pé de mim para falar comigo, algum dia, concerteza diria, "a menina cresça e apareça" ou " a menina tenha juízo" e nesse dia eu estaria vestida com a melhor roupa de "ir ver a Deus",  porque mesmo sendo ela muito irritativa, ela é boa, ela é a maior. Ela estava numa aula de voz quando estava morta aqui no parvalhão do Facebook. Ela foi casada com o magnífico Varela Silva: "O Varela",  diz ela naquela voz para o povo ouvir. Não há ninguém em Portugal que me faça sentir mais povo que a Simone de Oliveira. Merda, que irritação.

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

A E.L. James deve ter um problema muito grande

Não só os portugueses foram idiotizados pela trilogia mais merdosa do ano. O fenómeno sado-maso- totozão também chegou aqui e vende quilos de papel. Invejo imenso porque não sou capaz de fazer uma coisa igual. Se eu conseguisse escrever aquilo ia ser mil vezes mais feliz, porque com o dinheiro recebido em direitos, ia poder gastar acima das minhas possibilidades e deixar de comer Nestum quando estou triste, contente ou simplesmente sem grana, porque fui ao cinema e depois também precisei de fazer uma radiografia e não tinha dinheiro para as duas coisas e fui gastadeira, o que acontece todos os meses a partir do dia 15.  Por causa do Nestum, das radiografias e de ter que me habituar a viver como nos piores tempos na União Soviética, penso muito no que poderia fazer com a grana toda se um dia escrevesse uma merda tão grande. Li o primeiro todo. Todinho. E a cada página ficava mais invejosa: Eu não acredito! Eu não acredito nesta merda, um gajo sempre vestido com umas calças de ganga e uma camisa de linho branca e uma miúda toda babaca a gostar de levar palmadas e a chamar ao seu pipi - em vez de digamos, cona, buceta, rata, xoxota, sardanisca, gobernights, miúda sem nome - Minha Deusa Interior. Não dá para acreditar. É mau demais. Deixa-nos mal. Eu não tenho nenhuma deusa interior. Cada vez que o gajo a espanca e espanca sem forcinha nenhuma,  eu ia espancar muito melhor, a Deusa Interior dela aquece, enrubesce, dança e faz mais não sei o quê que o meu pipi nunca fez, faz ou fará em quarenta e dois anos de cambalhotas. Porque não são coisas que se consigam fazer. Ou ponham lá um pipi a dançar? É que nem no Sambódromo em dia de Portela.

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

O Vozeirão foi com a Xuxa?

Na Playboy de Novembro vem Ivete Sangalo a dizer que não é lésbica e que nunca dormiu com a Xuxa. Eu acho que uma mulher com a voz de Ivete só pode já ter, algum dia, dormido com a Xuxa,  nem que tenham deitado só umas horas a fazer festinhas uma à outra, uma noite perdida qualquer depois de um jantar no Trapiche Adelaide. Gosto de imaginar isso e de pensar que o vozeirão deu umas mordidas na sonsa. Só quem nunca foi a Salvador poderá defender Maria Machadão de noites tão picantes. Salvador é o Demo e acredito que as pernas da Maria Machadão tenham tido alguma influência na Xuxa que apesar de burra não é coitadinha, hum - hum, desvirginada pelo grandão do Pélé e namoradinha do Senna. Sou uma básica, gosto de imaginar, ver as fotos da Playboy juntar os pontos e lembrar-me de todas as minhas amigas que andam a ver a Gabriela e a dizer que um dia queriam era ter um bordel cheio de meninas e ser uma Maria Machadão, explicando a esquisitice por razões da crise. Acredite quem quiser. O que elas queriam sei eu: Experimentar. Experimentar só uma vezinha a Ivete e as mininas  da Ivete. Elas queriam a Ivete só por umas horas com a certeza de que depois vinham embora. Mas dizem que quem vai, não volta. Ou há mar e mar há ir e voltar. Eu iria mais a Ivete. Só não vou, porque sempre quis ser o Mundinho. Prefiro minha Gerusa, olhinhos azuis, toda loirinha a precisar de uma praia.  Faz um sol aqui, que nem vos conto.

terça-feira, 6 de novembro de 2012

Aeroporto Internacional do Rio de Janeiro - Antônio Carlos Jobim

Quando voltei a Portugal a pensar que tinha saudades e ia passar mais tempo com as pessoas e escrever crónicas em jornais que tivessem guito para pagar pelas coisas, tive amigos que olharam para mim horrorizados e me disseram que estava maluca. Ou mais maluca do que sou. Acho até que se formou um grupo de apostadores, que reunia às quartas feiras - sem eu saber - para irem fazendo um ponto da situação: Quanto tempo mais aguenta "a gaija".  Um ano. Um ano foi o que aguentei, cada dia mais longe das pessoas, mais chata, mais velha, mais olheirenta e deprimida. Uma vez no meio daquilo tudo mandaram-me ao cabeleireiro, tal era a podridão. Acho até que foi a minha filha, pelo skype.
Fui. Fui ao cabeleireiro um dia depois de ter passado no centro de emprego da área mais próxima da minha residência. E reconheço que estava desesperada e que por isso a lavagem capilar não chegou a levantar o meu estado de espírito. É que no Centro de Emprego me tinham  comunicado que havia lá uma "coisa" para oferecer a alguém. Alguém que não fosse totalmente desempregada - como eu -  e recebesse 300 euros mensais - como eu.  Foi então, que para meu espanto e em segredo, me revelaram a oportunidade fantástica: A Palhaça Tété estaria a precisar de alguém para trabalhar lá nos escritórios. Queriam alguém. Eu também.  Eu também estava a precisar de alguém e de trabalhar, mas nunca, nunca, jamais, e isto é em francês que ela tem cara de francófona, da Palhaça Tété e do circo e daquele Chapitô todo cheio de trapezistas, a quem sempre quis meter num foguetão para Marte. Deus dá-nos sinais, nunca mais vou esquecer a cara da senhora do Centro de Emprego. Obrigada.

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Descomplicômetro ligado

Primeira coisa a fazer: Ligar o descomplicômetro para ser feliz. Está tudo mais caro, pois está. Eles estão menos servis e mais espertos e também já não há tantas gatas por metro quadrado para nos atender na Osklen. Pois não. Mas isso tem um lado bom - menos concorrência. Faxineiras andam desaparecidas e já não limpam mais uma casa por quaisquer cinquentinha. Um fumacê pra trazer bons fluidos não se consegue por menos de 150. Obvio, desleixei o fumacê para a casa nova.
Mesmo assim, os cariocas que riam por tudo e por nada riem mais ainda, desconfio que mais dia menos dia a coisa me comece a irritar. Irrita sempre um bocadinho. Mas está tão bom! E tão bom, tão bom, que leva um ponto de exclamação! Que essa coisa de se ter deixado de exclamar em Portugal só pode ser um modismo deprimido de fadistas em crise criativa. Ou qualquer coisa para poupar. 
Digo sem medo: Está tão bom aqui, que se melhorar estraga! Até o mafioso do  Dirceu há-de ir  dentro, com uma tv flat-screen, mas dentro e se Deus for mesmo brasileiro - e é  - sodomizado até nunca mais voltar a poder sentar a bunda feia nas cadeiras do restaurante Papaçorda, em Lisboa, a beber vinhos caros e a fazer negócios sórdidos com gente esquisita.  
Nestes dias, felicidade tem sido fazer compras no supermercado Zona Sul ao lado de coreanos  feios da Samsung,  de americanos branquelas do petróleo e dos nossos miúdos sortudos, a fazer Erasmus e a comprar goiabinhas e gomas e rebuçados de tamarindo, com cara de quem é feliz e de quem se sente em casa entre um baseadinho, um mergulho e um jogo de altinha na praia.  Só se vive uma vez e eles estão cansados de ouvir o pregão da vendedora,  "Gente, se você quer ter um corpinho escultural, é só comer "sandwichi" natural. ". Vamos lá.

domingo, 4 de novembro de 2012

"Vandalismo Romântico"

Cheguei e já diminuí para um quarto o Cipralex que tomo, mas não sei se fiz bem. O cheiro pesado,  nauseabundo, tão bom da Baía de Guanabara ajudou a controlar a minha ansiedade que este ano andou nas alturas ao som da voz do Vítor Gaspar e das coisinhas do Vítor Gaspar e das olheiras bancárias do Vítor Gaspar. Este Portugal é do Vitor Gaspar. O frio é do Vítor Gaspar. Eles são amigos. O Furacão Sandy foi mandado pelo Vítor Gaspar para congelar os nova iorquinos que são pessoas giras e sobreviventes ao Bin Laden e os impedir de andarem nas ruas a comer pretzels todos contentinhos. Eu sei que ele, a fraulein, o Relvas e o Penteadinho andam atrás de nós porque querem comer  Pastéis de Belém às escondidas - se calhar não devia ter dimínuido a dose do antidepressivo.
É por isso que me mandaram emigrar, não queriam bichas à porta. Eu disse bichas? Disse bichas? Disse, disse; disse até pior, porque há pior que uma bicha, há bichas anãs, orientais, pessoas pretas e pretos mas também há paletes de familiazinhas, mil euricos por mês, à porta dos Pasteis de Belém, que são as que eles gostam. Todos macdonaldizados a passear em Massamá. Vingança do Penteadinho pelos anos de subúrbio. Um case study o miúdo Coelho. Ele suporta-nos, a grupeta dele odeia-nos. Somos os vândalos românticos apostados em ser felizes. Se não fosse para chorar só podería chamar ao ano que vivi em Portugal uma neochanchada.

"Vandalismo Romântico" é um termo roubado à minha amiga Patrícia Abrantes. Obrigada.

sábado, 3 de novembro de 2012

Minha alma tralálá


Depois de um ano em Portugal esta crónica é piegas. Desculpem toda ela estar a cantar aquela músiquinha dor de cotovelo, mas está cheia de saudades da Cidade Maravilhosa e a chorar muito com o reencontro.
Outras crónicas devem estar cheias de vergonha alheia.  Mas não faz mal. A crónica não está nem aí. A crónica está aqui zonza das primeiras batidas de maracujá e toda apaixonada pelo chão que pisa e muito nas tintas para os amiguinhos ironizantes, porque a crónica quase desabou e caiu na areia da praia de Ipanema ao rever o Vidigal todo iluminadinho – inho, sim inho -  à noite e achou logo certíssimos os encantamentos que o postal provoca, aquela belezura, aquela força da natureza que parece um presépio tão lindo à noite. E a crónica diz que sim e que sim,  com força e a cabeça a abanar, os olhos mareados de lágrimas e as pernas a falhar, que devia era estar toda maluca quando se foi embora, cansada de adormecer a olhar para o morro e acordar a olhar para o morro e triste com a mudança subtil no comportamento dos garçons cariocas que, às vezes, já não a tratavam tão bem, vá-se lá a saber porquê. Guito, guito. Guito, estes gajos estão cheios de guito e o guito transforma as pessoas.
A crónica estava tão parva, nessa altura, que a crónica conta; a crónica tinha saudades das pessoas na terrinha e do peixe fresco e da primavera e do cheiro dos manjericos e voltou, voltou para um amor que já não era: uma coisa triste, que entristece as suas pessoas e as torna pequeninas, a pedir tostões àquela fraulein feia, obviamente ressabiada por nunca ter experimentado os prazeres da brazilian wax.